Escrita

Uma tarde na biblioteca

Uma tarde na biblioteca

Meu mundo foi grandemente transformado naquela tarde, a partir do momento que ele entrou pela porta. A princípio eu pensei que era mais uma paixão dessas que rolam em uma troca de olhares no ônibus, no elevador ou no corredor do super mercado, essas que duram apenas alguns minutos ou os segundos de uma troca de olhar.

Mas eu estava enganada e só fui me dar conta disso quando me peguei voltando a biblioteca sempre nos mesmos dias e horários, na esperança de vê-lo entrando pela porta principal. No entanto ele nunca mais voltou e depois de algumas semanas eu percebi que a paixão não era só uma paixonite e continuou crescendo mesmo depois dele partir.

Não sei seu nome, seu endereço, nada. Só sei que ele me olhou, por alguns segundos. Eu ainda consigo me lembrar dos seus olhos castanho claro e seu cabelo devidamente arrumado em topete estiloso. Eu me lembro até mesmo do tom das suas sardas, belas sardas por sinal.

Seis meses depois e ainda me pego pensando nele, imaginando o dia que vamos nos esbarrar em algum lugar e talvez ai eu tenha a possibilidade de ir a seu encontro. O que eu não imaginava é que ele tivesse me visto e de algum modo tivesse sido afetado pelo mesmo tipo de paixão que despertou em mim.

Meu telefone tocou diversas vezes, um número desconhecido e sempre que atendia alguém desligava do outro lado. Na sexta vez eu já atendi soltando meia dúzia de palavrões e em troca eu ouvi sua voz…

– Eu te vi na biblioteca um dia desses…

Eu não consegui falar nada, só me perguntava como ele havia me achado e o porquê. Eu desliguei, fiquei segurando o telefone incrédula, encantada pela voz que preencheu meus ouvidos. O telefone tocou mais uma vez e eu parei pra observar aquele número, pensando quantas vezes eu me imaginei conversando com ele. E eu notei que o DDD era de outra cidade, talvez por isso eu nunca mais tenha encontrado com ele. Resolvi atender…

-Alô…

-Oi… – alguns segundos de silêncio – eu vi você na biblioteca e fiquei encantado…

-Espera – eu interrompi – Como você conseguiu me achar?

-Me desculpa eu sei que é estranho, mas por favor só escuta e depois você pode desligar se quiser, pode ser?

-Tranquilo, pode falar.

-Quando te vi aquele dia foi como se uma luz tivesse me hipnotizado, eu me recusei a acreditar que eu tinha sido fisgado, achei que era uma coisa momentânea. Mas… – silêncio mais uma vez – mas eu não consigo esquecer a forma como estava concentrada no seu livro ate que você encontrou meu olhar, aqueles segundos pareciam não ter fim e ao mesmo tempo foi tão rápido. Eu observei você pelos 30 minutos seguintes e ficou cravado na minha mente o jeito como você mexia no cabelo enquanto se perdia na história. Por favor, não desliga eu quero conhecer você.

– Você ainda não me disse como conseguiu me encontrar.

-Bom eu descobri que a biblioteca tem uma rede de cadastro com foto e quando eu achei seu rosto liguei para lá e disse que precisava encontrar você pra devolver um livro pessoal que havia me emprestado, foi difícil, mas a atendente me passou o seu telefone com a condição de que eu não contasse onde consegui o número.

-E você acabou de contar

-É verdade, mas eu espero que você não me dedure. Pois pra mim valeu muito a pena quebrar essa condição….. – Alguns segundo se passaram – Fala alguma coisa por favor, nem que seja pedir pra eu não te ligar ou pra dizer que eu me enganei – ele disse.

-Meu nome é Lana, saiba que  durante esses meses eu imaginei diversas vezes que te encontrava novamente, mas nunca imaginei que também havia se sentido das mesma foma que eu.

-Lana, é bom ter um nome para um rosto tão bonito. Sou Rafael… eu não só senti, como ainda sinto. Eu não moro no Rio, mas vou estar na cidade na próxima semana, vamos nos ver, eu preciso encontrar seus olhos de novo.

Durante os dias que antecederam a chegada dele na cidade, nos falamos todos os dias, sobre tudo… nossos gostos, nossos passados e anseios para a vida. Quando finalmente chegou o dia tão esperado, coloquei uma roupa simples, uma maquiagem leve e sai uma hora antes do combinado, a ansiedade era grande demais.

Marcamos de nos encontrar no barzinho perto da biblioteca, eu cheguei primeiro e esperei 26 minutos (contado no relógio, devo admitir) e finalmente eu o vi e foi de parar o coração. Ele estava atravessando a esquina, vindo na minha direção.

Quando ele chegou perto o suficiente tirou o óculos e eu pude encontrar seus olhos novamente. Como eu esperei por isso. Ele me tomou nos braços e senti a imensidão de tudo, eu vi que podeira morar pra sempre nesse abraço.

Esse texto faz parte do Projeto Escrita Criativa.

23 comentários em “Uma tarde na biblioteca

  1. Aiiii que eu adorei o texto, sabe quando queremos correr os olhos o mais rápido possível para saber qual será a próxima frase ou próximo pensamento, foi exatamente assim que li seu post, quase comecei do fim para o inicio rsrs mas me segurei e li corretamente do começo rsrs Precisa de continuação….

    Curtir

Deixe um comentário